domingo, 26 de abril de 2009

.sentido.

É necessário que se morra algumas vezes, nem que seja por alguns instantes.

Encontraram M. caída no quintal. O galho não suportou o peso mas o tempo foi suficiente para deixá-la (in)consciente. Antes estava inconsciente de si mesma, do seu entorno. Já não tinha consciência da sua existência nem da necessidade dela.

Motivos. M. precisava deles para continuar. Todos precisam.

Era tudo muito estável. O emprego, a casa, o alguém. Não precisava de mais nada e era esse o problema. A estabilidade, que não te faz dizer nem sim nem não, não te faz chorar nem rir, não te faz querer. Ela te faz seguir.

M. vivia num estado inconsciente das coisas. Do trabalho já sabia tudo, já tinha alguém que a aceitava como era e que ela já possuía.

Mas em algum momento a vida muda, o vento sopra para um outro lugar. Perdemos o controle e caminhamos sem direção. É como se uma lâmpada se acendesse logo ali e te fizesse enxergar tudo com mais clareza. E é assim, sem porque. Pode ser porque você viu uma foto e tem saudades do que já foi, porque só consegue se enxergar no passado, porque tem medo de se tornar aquele vizinho insuportável ou porque simplesmente conheceu alguém interessante.

Não sei dizer qual foi o motivo de M. Por poucos instantes havia recuperado a consciência e sentiu necessidade de morrer, de matar aquele ser que não conhecia e que suportava a estabilidade de uma forma tão irracional.

M. conseguiu morrer naquele dia e hoje por alguns instantes todos os dias ela morre um pouco para estar realmente viva no dia seguinte.

Como diz minha mãe: “Para morrer basta estar vivo”. Em todos os sentidos.

Um comentário:

  1. Puxa... é isso também! http://eduardolarabicalho.blogspot.com/2009/04/comida-japonesa.html

    Por ai mesmo... desesperador...

    ResponderExcluir