quinta-feira, 16 de abril de 2009

ana.

Às vezes quando o céu fica nublado e o cheiro de fim de dia permanece no ar é hora de pedir uma pausa ao tempo e respirar o presente.
“Diz”, foi sua única palavra, e ficou esperando uma resposta que seu corpo há dias sabia que iria escutar, ficou fixada naqueles olhos que já não podia mais ultrapassar.
Havia um muro de desejos opostos entre aqueles corpos ausentes e uma vontade de que a vida parasse naquele momento para que o amor se fizesse presente.
“O amor não morre, se transforma”, ele disse, e baixou os olhos para não ver Ana se apagando.
Ela sentiu a cabeça rodar e seu corpo enfraquecer enquanto se lembrava das tantas vezes que havia pensado isso. Era ela quem deveria ter dito essas palavras. “Quando foi que minha coragem me abandonou e eu passei a viver de cinzas?”.
Não é difícil deixar o outro ir embora, é difícil querer partir. Difícil deixar o cheiro, o gosto, as cores. É difícil parar de se repetir.
“Preciso ir”, ela disse, e saiu andando como se tivesse tirado das costas o fardo mais pesado que pudesse existir.
De longe ele a via diminuir nas distância de seus pensamentos.
Ela percebeu que o que a prendia era apenas o medo de se ver só depois de tanto tempo. Medo de dar o próximo passo sem ter um alguém que construísse sua estrada. Teria que caminhar sozinha.
Não olhou para trás. Não precisava. O amor não precisa de olhos pois mesmo no escuro ele está presente.
Falta é uma coisa que a gente sente quando está vazio.
Ausência é quando já fomos preenchidos e o coração dói porque não tem mais espaço.
Lembrou do gosto da cada momento e transformou suas lágrimas numa chuva de desejos passados.
Do outro lado ele sentia uma lágrima escorrer entre seus lábios enquanto se despedia do seu último desejo.
E esse foi o último beijo.

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