domingo, 14 de maio de 2017

Postagens de uma mãe com dificuldades para manter um blog II




Eu e João na Praça do Papa.
- Mãe, a praça é dos ricos? Essa praça não parece de ricos.
- Não, filho. A praça não é dos ricos.
- Mas ela foi construída por quem?
- Pela prefeitura. Por quem governa a cidade.
- E a prefeitura é rica, né?
- Não necessariamente...
- Uai, a prefeitura somos nós, não é?
- Sim.
- Então, todos nós juntos somos ricos, então ela tem que ser rica e construir praça pra todo mundo. E se ela dividir o dinheiro, não vai ter mais ninguém pobre. Porque a gente não divide o dinheiro?

...


João, depois de ler um livro. 

- Mãe, por que tudo é sobre os homens? Por que as pessoas que escrevem livros sempre escrevem que "o homem criou os bichos", "o homem fez isso", "o homem fez aquilo". Por que não pode ser a mulher? Por que não pode ser a criança? Sempre o homem... que chato!

...


Eu amo ser mãe. E isso não pretende ser uma apologia à maternidade (que é dolorosa para muitas mulheres), mas provavelmente será (e eu já peço desculpas antecipadas a quem se sentir ofendido por não querer ser mãe ou pai).

Filho é incrível. E hoje eu não vou ponderar sobre isso. Não vou dizer que é difícil, que filho acorda de madrugada, que fica doente, que faz birra, que te faz passar vergonha na fila do supermercado. Não vou dizer que seus amigos se afastam porque não têm paciência pra criança pequena, criança chorando, criança pulando, criança gritando, criança cantando. Não. Não vou ponderar, porque isso faz parte de uma coisa que se você não viver, nunca saberá como é. 
Filho te reinventa. Você é obrigada a não olhar mais apenas para você. O que às vezes é difícil pra caralho, mas pode ser incrível, porque você olha um outro que há pouco tempo não existia na sua vida. E com o filho você vai percebendo vários outros que você não enxergava. Filho te faz olhar para as coisas de formas diferentes, te faz ir em lugares que você não iria, a comer coisas que você não comeria, a ouvir músicas que você não ouviria, a cantar, a contar histórias, a levantar cedo. Filho te mostra a lua como se fosse a coisa mais incrível que existe. E é. Assim como a neblina, o mar, a flor. Só que a gente perde isso nessa vida louca desconstruidona onde o que a gente quer é se afirmar o tempo todo, é saber tudo o tempo todo, onde a gente quer ser o que a gente é o tempo todo. E filho te mostra que você não é porra nenhuma. Você é uma construção que em determinada hora da vida acha que se completou. Filho te dá altos tapas na cara. Filho te faz rir e te faz chorar mais do que você imaginaria que riria ou choraria uma vida inteira. E te faz perder a paciência. E te faz pensar no porque você perdeu a paciência. E te faz ver que a sua noção de tempo é sua, e que ele tem a dele. E que o tempo de construção das coisas é coletivo. Filho te muda. E filho te dá um porto pra onde você sabe que pode voltar quando está prestes a enlouquecer. Filho faz com que você enxergue muito de você que você nem sabia que existia e faz você jogar fora muito de você que há muito não precisava.
E porque escrever essa porra toda? 
Porque a gente tá num momento que em 8 de cada 10 lugares onde eu vou, o papo é a desgraça que a maternidade é. E sim, ela tem muitos pontos que precisam ser conversados, a começar por onde andam os pais que não vivem isso tudo que eu escrevi aqui em cima, nem o bom, nem o ruim, não pagam pensão e ainda entram na justiça pra pedir guarda compartilhada. Tem muitos por aí. Ô. 
Mas ter filho, para mim, é uma experiência única. Nada que eu fiz nessa vida, ainda, chega perto de receber um beijo molhado de manhã de um pirralho de 1 ano e meio e ouvir, te amo mamãe, de alguém que até outro dia não existia na sua vida. E ser sincero. E não te pedir para que você diga te amo de volta. 
Porque outro dia, o João disse, mãe eu amo a sua comida. E caralho, eu nunca gostei de cozinhar, e eu pensei, ele tá zuando a minha cara (porque sim, ele já tem idade pra isso), e ele disse, eu tô falando sério, e eu passei a cozinhar. Todo dia. TODO DIA. Todo fucking dia. Porque meu filho ama a minha comida. E eu amo que ele ame a minha comida. E eu passei a cozinhar com prazer. E com amor. E essa troca de amores me fortalece, diariamente. 
Então, hoje é dia de dizer. Filho é foda. Filho te melhora. Filho melhora o mundo. Filho te faz amar. E a gente precisa de amor. Então, tenham filhos. Lotem o mundo de filhos, porque, cara. Eu não vou mudar nada nessa porra de mundo, porque tá tudo fudido. Mas eu vou sair mudada dele. E isso é incrível.

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